Equilíbrio

Em busca do equilíbrio...entre culturas,
filosofias e tradições, tão vincadamente
distintas... é necessário, todo o cuidado,
atenção e sensatez, para que "o conhecimento"
não nos transporte, para tempos passados
e sobretudo que a nossa mente não nos faça
querer viver no passado, que como a palavra
indica... "passou", não volta mais, é agora
que vivemos e como tal, teremos que olhar
para o Mundo e para Vida de uma forma
lúcida e equilibrada.
Peço aos praticantes de Budo Japonês, que

por ventura, leiam estas breves notas, que
as tomem apenas como ponto de referência
e não como "doutrina" de vida...

Obrigado.

Sensei Gomes da Costa


quarta-feira, 16 de abril de 2008

Uchi Deshi

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.........Uchi Deshi
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Primeiro gostaria de salientar algumas diferenças óbvias dos
diversos significados da palavra Uchi Deshi,(que hoje é usada
com tanta ligeireza, que quase toca a leviandade)...
Uchi Deshi "estudante interno" e verdadeiro "aprendiz" no
sentido tradicional da palavra, de instrutor profissional,
esse Uchi Deshi com o treino formal e tradicional, morreu
realmente com os O´Sensei do passado.
O verdadeiro Uchi Deshi tinha um treino extremamente
duro, normalmente de 35 horas por semana mínimo, não
só fisíco como mental e psicológico, tinha que ser o primeiro
a começar e o último a terminar (e a comer), tinha que tratar
diàriamente do Dojo, limpar o chão, os vestiários, limpar o
pó a tudo, limpar o jardim, varrer a entrada do Dojo e o
passeio da rua em frente da casa, tinha que servir o Sensei e
os Senpai, não podia falar senão fosse interpelado, em viagem
tinha que carregar com a bagagem, verificar os WC antes do
Sensei entrar, tinha que verificar o quarto do hotel antes do
Sensei se acomodar, tinha que impedir que alguém se
atravessasse pela frente do Sensei, tinha que dar massagens
quando o Sensei tinha dores de costas, ombros, etc. Tinha
igualmente que coordenar os cursos, assistir o Sensei e
ajudar os participantes, era no entanto, companheiro e
confidente do Sensei. Esse era o treino do Uchi Deshi que
além de ser "aluno interno", era mais "discípulo interno".
Diz-se que : "uma vez Uchi Deshi... sempre Uchi Deshi" pelo
facto de poucos atingirem o nível de Sensei e que uma parte
desse treino fica para sempre gravado na personalidade e
carácter do "aluno interno".
Hoje, a tradição do Uchi Deshi continua , mas é agora muito
mais Soto Deshi (aluno externo) com algumas tarefas no
Dojo, a nível de burocracia, atender visitantes, coordenar
estágios, enviar cartas, organizar encontros, enfim ajudar
nas tarefas extra, não vive no Dojo e normalmente não tem
tarefas de limpeza e manutenção do Dojo, esta é a norma de
hoje do Uchi Deshi no Japão e pelo Mundo, por último há o
"título" de Uchi Deshi, que é atribuido hoje em dia por alguns
Mestres, com o respectivo Diploma, em treinos de fim de
semana ou ao final de um Gashuku... é pois necessário não
confundir os diversos significados, níveis de dificuldade, a
profundidade e seriedade do ensino tradicional baseado no
esforço, abnegação e entrega total do Aluno, Mestre e Dojo,
que dão conteúdo á função tradicional do Uchi Deshi de
épocas passadas.
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Agradeço a Nambu Sensei a oportunidade que me deu em
Paris de 1967~1970, de ser o seu Uchi Deshi e por todo o
ensinamento que me transmitiu, de forma simples e sem
"exotismos" ou "maestralidades".
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Ainda mais agradeço ao meu falecido Mestre e amigo
Hayabuchi O´Sensei, pela oportunidade rara, na época,
(1971~1973) de me ter aceitado como Uchi Deshi, numa
altura em que um Ocidental, nem era aceite como aluno
nos Dojos de Iaido, fora de Tokyo, e como "aluno interno"
era totalmente impensável e para muitos totalmente
"inaceitável"...


.....

Dojo Tradicional


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.....Dojo Tradicional


DOJO -- Local de prática das Artes de Budo, era inicialmente
um lugar mítico, onde o guerreiro se preparava tècnicamente e
mentalmente, para cumprir o seu destino de servir o seu Senhor
feudal, da forma mais breve e honrada possível (a flor do Sakura,
sendo de duração efémera, é símbolo do Samurai), era dito
nessa altura ser "o lugar do despertar", em ligação com as
palavras de Buda: "Despertai", ou seja "tomai consciência",
daí que Dojo, significou durante muitas décadas:
"Local de Iluminação".
JO = Local, DO = tem um significado muito mais profundo,
traduzido normalmente por "Via" ou "Caminho", terá
naturalmente que chegar, ao ponto de tomada de consciência
ou "Iluminação". Assim um dos elementos fundamentais do Dojo
é o Kamiza ou lugar dos Kami (espírito), ou seja um Altar, onde
normalmente se coloca o Kamidana (templo em miniatura, onde
habitam os espíritos dos Mestres que desenvolveram as Artes)
e onde deve haver dois Sanbo (tabuleiros de prática Shinto), nos
quais há recipientes com sal virgem e água como elementos de
purificação, arroz e sake como elementos de oferenda ao espírito
dos Mestres, (conceito Budista de oferecer comida e bebida aos
antepassados). As linhas de orientação de toda a disposição dos
diversos elementos do Dojo, devem obedecer aos princípios do
Feng Shui, assim o Kamiza e respectivo altar deve ser colocado
no ponto do nascer do Sol, as fotografias do Mestres, devem ser
colocadas na linha percorrida pelo Sol, como sinal da sua ajuda,
durante a duração das nossas vidas, quando tal não é possível,
então devemos escolher a disposição mais harmoniosa.
Não se deve entrar calçado no espaço físico do Dojo e muito
menos nos soalhos ou Tatami dedicados á prática, deve-se
moderar o nível de voz e assuntos dos quais falamos dentro do
Dojo. O local deve ser limpo com frequência, se possível pelos
próprios praticantes antes de cada treino, sendo diàriamente se
o Dojo tiver um Uchi Deshi, senão será o Mestre a fazê-lo, pelo
menos os espaços de treino e elementos importantes do Dojo.
Entende-se por Dojo Tradicional, um Dojo onde o Mestre vive,
como total dedicação á sua Arte e total concentração na sua
evolução fisíca, mental e espiritual (não é ter um Dojo em casa,
mas sim ter habitação no Dojo), vivendo com total entrega à
prática na totalidade do seu dia. Era esta a regra em
tempos passados no Japão em todas as Artes, não só de
Budo, mas sim todas as Artes em geral do Shodo ao Shigin...
Num Dojo Tradicional, em geral não há "exames" de
graduação, as mudanças de Kyu ou Dan, são alteradas no
quadro do praticante pelo Mestre ou Senpai responsável
por essa tarefa, parte-se do princípio que, á medida que o
tempo passa, se conhece o praticante "por dentro e
por fora", portanto o "exame" é naturalmente
desnecessário ou apenas um protocolo. Assim o praticante,
concentra-se na Arte e não no grau que lhe é atribuido...
obviamente que o grau reflete o nível de progresso atingido,
mas o nível refere a técnica, o mental e o espiritual... e se a
princípio só vemos o físico e a técnica, só muito mais tarde
damos valor ao mental e espiritual : na "Vida como no Budo"
A hierarquia num Dojo Tradicional não se baseia só na
graduação dos praticantes, o factor mais importante é a
antiguidade e a dedicação ao Dojo, há elementos no topo da
hierarquia que não praticam nenhuma Arte, mais os serviços
que prestam ao Dojo têem toda a relevância e dão-lhes um
estatuto elevado dentro da Família...
No Japão os Mestres que seguiam este caminho e que
atingiam notoriedade, eram considerados pelo Governo
Japonês, tesouros ou monumentos vivos, património do
Japão e eram compensados com uma pequena pensão e
descontos especiais nos tranportes públicos, pousadas e até
em alguns restaurantes. Deviam no entanto participar em
festivais locais ou nacionais, para assim transmitirem aos
mais novos, as tradições do país. No Japão actual esta
tradição vai desaparecendo, é no entanto inexistente no
Ocidente, há mesmo assim Mestres ocidentais, que viveram
no Japão, que seguem esta tradição, em Potugal temos o
Mestre Georges Stobaerts em Sintra e
o Mestre Gomes da Costa em Faro.
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Agradeço á minha esposa Ana e ao meu filho Alexandre, o
sacrifício que representa viver num Dojo Tradicional, local
que é, para todos os efeitos, um lugar público...

domingo, 13 de abril de 2008

2007 BudoSai














........2007 BudoSai Bisham Londres

Quando em Maio de 2007 o meu amigo, de longa data
(1970),Terry Wingrove, me enviou um e-mail a
perguntar-me se eu teria disponibilidade para
participar no BudoSai comemorativo dos 50 anos
do Karate Inglês , em Bisham Londres, com uma
iniciação ao Iaido, estava muito longe de
imaginar o que iria encontrar e viver em Bisham.
Primeiro a organização a nível de horários,
transportes, alogamentos, apoio aos participantes,
instalações desportivas, foram de uma qualidade
fantástica... enseguida o ambiente entre os Mestres
das diversas Artes era absolutamente incrível,
trocavam-se impressões, perguntava-se,
esclarecia-se, intercâmbio de informação...nunca
tinha visto um evento de Budo em que havia Karate,
Jujutsu, Aikido, Taichi, Kobudo de Okinawa, Iaido,
vários estilos de Kung-Fu...em que os Mestres se
sentavam a trocar impressões e conhecimentos
históricos, sem qualquer nuvém de política ou a
certa "arrogância" própria destes eventos.
O tempo que lhes levei do Algarve, que durou apenas
os dias do BudoSai, ajudou ainda mais o ambiente
tradicional, ao poder haver treinos ar livre, ou junto
ao Tamisa ou debaixo das frondosas árvores, das
quais a minha favorita é um carvalho com 600 anos,
absolutamente colossal e cuja emanação de energia
convidava á pura prática do Budo. Cada um ia
praticar o que lhe interessava e com quem lhe
despertava a curiosidade, o ambiente entre as
diversas nacionalidades é do melhor, todos se
interessavam em saber de onde eram uns e outros,
trocavam impressões sobre as diversas Artes,
Mestres, métodos de ensino e visões pessoais, enfim
construtivo.
As refeições e convívios eram efectuados num antigo
Pavilhão de Caça da Monarquia Inglesa, de um
requinte, que quase diria, pouco apropriado a
Budokas, que estão mais habituados ao "Puro e Duro".
O Mestre Terry Wingrove, além de ser um excelente
anfitrião, é homem que sempre fez parte das grandes
Organizações Mundiais e tem por objectivo, que o
BudoSai, se realize anualmente, neste local e com
este ambiente de "não-politica" e em que cada vez
mais Mestres e praticantes se juntem, não só para
alargar conhecimentos, como para conviverem entre
si, num ambiente, que deve ser, o dos praticantes de
Budo. Ser-me-ia impossível descrever o ambiente do
jantar de despedida, que era o verdadeiro momento
da comemoração do 50º Aniversário do Karate
Inglês , pois a quantidade de Mestres e de antigos
atletas, alguns velhos adversários meus, de
Campeonatos do passado... prefiro que visitem o
site CiberBudo, onde encontrarão artigos
pormenorizados sobre todos os eventos e
respectivos participantes.
Este ano o BudoSai, será ainda melhor, tanto a nível
de Mestres como a nível de número de participantes
e penso que se vai tornar, um grande evento Europeu.
Espero vê-los em Bisham, em Setembro para o
BudoSai 2008.
Para mais informações é favor contactar a
:
CiberBudo.
(Link neste Blog)



quinta-feira, 27 de março de 2008

Budo Viajem Japão



~.............Mestres do BudoSai 2007 Bisham Londres
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Sensei Alex DaCosta
Agenda 2008
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Janeiro...........26~27.... Quarteira Algarve........Portugal
Junho ..............21~22.... Gdansk....................Polónia
Junho ................28~29.... Hull Yorkshire.......Inglaterra
Setembro.....5/6/7.2008 BUDOSAI. Bisham.....Inglaterra
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Para mais informações contactar : CyberBudo

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CyberBudo
Tem o prazer de anunciar : A TRIP OF A LIFETIME um
pacote fantástico, que inclui viajens directas, a 3 centros
(Kyoto. Kobe & Tokyo), bons hoteis, estadia com pequeno
almoço. Bilhetes de TGV, treinos com Grandes Mestres
e bilhetes para o Campeonato do Mundo de Karate no
Budokan, Tokyo (se desejado). Com visitas e passeios
guiados . Isto é a viajem ideal para todos os praticantes/
instructores beneficiarem desta Oportunidade Única .
Para podermos oferecer o melhor serviço, limitámos
este grupo a, 40 pessoas, que serão acompanhadas
pelo Hanshi Terry Wingrove (que residiu no Japão
durante 21 anos). O custo total será de £2000 ,
pedimos a quem estiver interessado , que contacte
por e-mail o mais depressa possível :
ref. JAPAN TRIP para mais detalhes.

sábado, 16 de fevereiro de 2008

Segredos do Budo


Segredos do Budo

Um dia, um samurai, grande Mestre de sabre
quis obter o verdadeiro espírito da esgrima. Era durante
a época Tokugawa. À meia noite, foi a um santuário de
Kamakura, subiu os numerosos degraus que levam até
lá e rendeu homenagem ao Deus local, Hachinam.
Hachinam, no Japão, é um grande Bodhisattva que se
tornou o protector do Budo. O Samurai rendeu-lhe
Homenagem. Ao descer os degraus, á meia noite, ele
sentiu, debaixo de uma grande árvore, a presença de um
monstro em frente dele. Por intuição, ele desembainhou
o seu sabre e num instante matou o monstro. O sangue
jorrou e derramou-se pelo chão. Ele matou-o
inconscientemente. O Bodhisattva Hachinam não lhe
deu o segredo do Budo. Mas graças a esta experiência,
no caminho de regresso, ele compreendeu-o. A intuição
e a acção devem surgir simultâneamente. Não pode
haver pensamento na prática do Budo. Não há um só
segundo para pensar. Quando agimos, a intensão e a
acção devem ser simultâneos. Se dissermos : " O
monstro está ali, como matá-lo? ", se hesitamos, só o
cérebro frontal entra em acção. Ora, o cérebro
Thalamus (cérebro profundo) e acção devem coincidir,
no mesmo instante, idênticos. Assim como o reflexo da
Lua sobre um curso de àgua, não fica imóvel, se bem
que a Lua não se mexa. É a consciência Hishiryo.
Quando dizemos durante o zazen " não mexer, não
mexer ", isso significa de facto não ficar sobre o
mesmo pensamento, deixar passar os pensamentos.
Demorar em perfeita estabilidade significa na realidade
não demorar. Não mexer, significa na realidade mexer,
não dormir. É como uma broca que roda : podemos
considerá-la imóvel, mas ela está em plena acção. Só
podemos ver o seu movimento quando ela inicia o
movimento ou quando ela se aproxima do fim do
movimento. Assim a tranquilidade no movimento, será
ela o segredo do Iaido ? (Via do sabre). É tambem o
segredo do Budo e do Zen, que têem o mesmo gosto.
Este espírito é o mesmo em todas as Artes de Budo,
quaisquer que sejam as suas diferenças tácticas e
técnicas. Assim o Judo ( JU = suavidade ; DO = Via )
é a Via da suplesse (yawara). O Mestre Kano foi o
fundador, depois da revolução Meiji. Os Samurai,
esses guerreiros ferrenhos, aprendiam o yawara, a
técnica da suavidade. No Japão, os samurai deviam
aprender as artes de guerra, assim como aquelas da
vida civil. Eles tinham que estudar o Budismo,
Lao Tseu, Confucius e ao mesmo tempo aprendiam
o Judo, equitação, tiro ao arco, etc...Kodo Sawaki,
nas suas conferências dizia que o seu segredo era
Kyu Shin Ryu, " a Arte de dirigir o Espírito ".

Dirigir o Espírito

Como dirigir o nosso espírito? Isso vem do Zen e não
da técnica das Artes de Budo. Estas em conjunto com
o Zen formam o Budo Japonês. Como educar o nosso
espírito e aprender a dirigi-lo?
Kodo Sawaki falou do Kyu Shin Ryu, o segredo do
yawara, transmitido por esta escola, num texto
tradicional do qual um capítulo trata do espírito
tranquilo.Eis uma passagem : " A verdadeira técnica
do corpo, o wasa desta escola de yawara, deve ser a
substância do espírito ". A substância é o espírito.
Não se deve olhar para o corpo do adversário, mas é
necessário dirigir o nosso próprio espírito. Não há
inimigo. O espírito é sem forma, mas pode por vezes
ter uma : isso é idêntico ao zazen ! Por vezes
podemos "agarrar" o nosso espírito, mas por vezes é
impossível. Quando a actividade do espirito "enche" o
cosmos, que é o espaço compreendido entre o céu e a
terra, e quando sabemos aproveitar a oportunidade que
se apresenta, então podemos dispor de todos os
acontecimentos em pleno "decorrer ", evitar todos os
acidentes e empreender dez mil coisas "numa só "...
Sem comentário. É um texto díficil de compreender.
Mas aqueles que practicaram profundamente o Judo
compreendem este espírito. No Genjo Koan outro
texto tradicional de que se servia Kodo Sawaki, diz-se :
" Quando um homem se afasta da margem num barco,
ele imagina que a margem está em movimento. Mas
se ele baixar o seu olhar, para junto da sua embarcação,
aperceber-se-á de que é ele que está em movimento ".
Com efeito, se olharmos com atenção, intìmamente,
para o interior do nosso barco, compreendemos que é
o barco que se movimenta e assim ultrapassamos a
ilusão dos sentidos. Então, quando as pessoas
consideram todos os fenómenos de todas as
existências através das suas ilusões e dos seus erros,
podem enganar-se e pensar que a sua natureza original
está dependente e móvel. Mas se eles se tornarem
íntimos com o seu verdadeiro espírito, e se regressarem
à sua natureza original, então comprenderão que todos
os fenómenos, todas as existências se encontram dentro
deles próprios, e que isto é igualmente verdade para
todos os seres. A natureza original da existência não
pode ser realmente apreendida pelos nossos sentidos
ou pelas nossas impressões. Quando a apreendemos
pelos nossos sentidos, a matéria objectiva não é real
ela não é verdadeira substância, ela é apenas
imaginação. Quando pensamos compreender que a
substância do nosso espírito, é tal , é um erro. Cada
um é diferente. As formas e as cores são as mesmas,
mas cada um as vê diferentemente através das suas
ilusões : ilusão fisiológica e psicológica. Todos esses
problemas da nossa vida quotidiana encontrarão uma
solução com o tempo, ao fim de vinte ou trinta anos ;
e no momento de entrar no nosso caixão, eles estarão
de qualquer modo resolvidos. O tempo é a melhor
solução para os problemas de dinheiro e de amor.
Quando entrares no vosso caixão, mais ninguém vos
amará, excepto talvez de um amor espiritual.
Os problemas da vida são diferentes para cada um,
e cada um tem necessidade de um meio diferente,
para resolver os seus problemas. Temos pois
necessidade de criar o nosso próprio método.
Se imitarmos... enganamo-nos.
É necessário criar por " si próprio ".
.

...

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Zen e Budo

O Zen e o Budo


A sala de exercício onde se aprende a Arte do sabre,
tem desde longa data a designação de :" lugar do
despertar "(Dojo). A Arte do Sabre (Iai Do),
não consiste absolutamente nada em perseguir um
resultado exterior com um Sabre , mas sòmente,
a realizar qualquer coisa dentro de si próprio.
A descoberta, no mais profundo do Ser, da Essência
sem fundo e sem forma, é resultante de uma meditação
dirigida com método, segundo as vias próprias do Zen.
Será este o ponto em que se começa a sentir a
influência do Zen sobre a Arte do Sabre ? .

A Força e a Sabedoria

Como ser o mais forte? O mais potente? Como aclarar
o nosso espírito, guiar a nossa conduta e tornarmo-nos
sábios? Desde a Aurora da História, o ser humano
manifestou o desejo de se ultrapassar em força e em
sabedoria, aspirando a atingir a maior força e a mais
elevada sabedoria. Mas, de que forma ou meio,
poderemos tornarmo-nos fortes e sábios ao mesmo
tempo? No Japão, as pessoas tentam atingir este
objectivo através da prática do Budo, e pelo Zen.
Este ensinamente tradicional tem-se mantido, ainda
que o Budo Japonês actualmente tenda a ser dualista :
aprender a tornarmo-nos fortes, em vez de nos
tornarmos sábios. Forte e Sábio : o Zen ensina-nos
estas duas vias... numa só. Como sabeis, as
possibilidades do nosso corpo e do nosso espírito são
limitadas, é esse o ponto da nossa condição. A nossa
sabedoria também está limitada, pois somos apenas
homens. O homem não pode pretender ter a força
fisica do leão ; tão pouco pode pretender igualar a
sabedoria de Deus. E porque não? Não haverá uma
maneira ou Via que permita ao homem ultrapassar os
limites da sua humanidade? E passar para além dessa
fronteira? É para dar resposta a esta esperança
fundamental que o Budo produziu o princípio do "wasa".
Podemos definir o "wasa" como uma Arte, como
uma espécie de super-técnica transmitida de Mestre a
Discípulo, e que permitirá impor-se aos outros homens
e elevar-se acima deles. O wasa do Budo Japonês
remonta à época histórica dos samurai. É um poder
para além da força própria do indivíduo. O Zen, criou
uma super-técnica, que não sòmente dá a força física
e mental, mas ainda abre a Via da Sabedoria, a Via de
uma sabedoria similar aquela de Deus ou Buda. É o
"zazen" , um treino que consiste em sentar-se numa
posição tradicional, um treino a andar, a sentir-se de
pé, a respirar correctamente, uma atitude mental, um
estado de consciência " hishiryu ", uma educação
profunda e original.

A Nobre Luta do Guerreiro

O Budo é a Via do guerreiro; agrupa o conjunto das
Artes de Budo Japonês. O Budo aprofundou de
maneira directa as relações existentes entre a éctica,
a religião e a filosofia. A sua relação com o desporto
é muito recente. Os textos antigos que lhe são
consagrados dizem respeito essencialmente à cultura
mental e à reflexão sobre a natureza do "Eu " : Quem
sou Eu ? Em Japonês, Do significa a Via. Como
praticar essa Via? Qual é o método para a obter? Não
é sòmente a aprendizagem de uma técnica, um wasa
e ainda menos uma competição desportiva. O Budo
inclui Artes como o Kendo, o Judo, o Aikido, o Iaido,
etc . No entanto,o kanji "BU ", significa igualmente
parar, cessar a luta. Assim no Budo não se trata
sòmente de enfrentar, mas também de encontrar a
paz e a maestria de si próprio (auto-domínio).
Porque o Do é a Via, o método, o ensinamento para
compreender perfeitamente a natureza do seu
próprio espírito e do seu " EU ". É a Via de Buda,
o Butsu Do, que permite descobrir realmente a sua
própria natureza original, de se despertar do sono do
Ego adormecido (o nosso EU intrincado), e de atingir
a mais alta e a mais elevada das personalidades.
Na Ásia esta Via tornou-se a moral mais elevada e a
essência de todas as religiões e de todas as filosofias.
"O Ying e Yang " do Yi-King ou a "Existência é Nada "
de Lao Tseu, encontram aí as suas raízes. Que quer
isto dizer? Que se pode pôr de lado o seu corpo e o
seu espírito pessoal : atingir o espírito absoluto, o
Não-Ego. Harmonizar, fundir o Céu e a Terra: o
espírito interior deixa passar os pensamentos e as
emoções. É- se totalmente livre do meio ambiente.
O egoismo é abandonado. Tal é a fonte das religiões
e filosofias da Ásia. O Espírito e o Corpo, o interior e
o exterior, a substância e os fenómenos: estes pares
não são nem dualistas, nem opostos, mas formam
uma unidade sem separação. Uma mudança, seja ela
qual for, influencia sempre todas as acções, todas as
relações entre todasas existências. A satisfação ou
insatisfação de uma pessoa, influenciam todas as
outras pessoas. As nossas acções pessoais e as dos
outros estão em relação de "interdependência ".
A vossa felicidade deve ser a minha felicidade,e se
chorais, chorarei convosco.Quando estais triste,
preciso ficar triste, e quando estais feliz devo tambem
sê-lo . Tudo está ligado, tudo se osmose no Universo.
Não se pode separar a Parte do Todo : a
Interdependência rege a ordem Cósmica.Em cerca de
cinco mil anos de história oriental, a maior parte dos
sábios e filósofos concentraram-se sobre este espírito,
sobre esta Via, e transmitiram-na. O " Shin Jin Mei "
livro muito antigo, de origem chinesa, diz : " Shi Do
Bu Nan " ... a Via mais elevada não é difícil, mas não
deve haver escolha. Não deve haver nem gosto nem
desgosto. O San Do Kai diz também : " Há separação
como entre uma Montanha e um Rio.... se existirem
desilusões.... ". O Zen significa o esforço do homem
praticando a meditação, o zazen. O esforço para
atingir o domínio dos pensamentos sem
descriminação, a consciência para lá de todas as
categorias, englobando todas as expressões da
linguagem. Esta dimensão,pode ser atingida pela
prática do Zazen e do Budo.

Os Sete Princípios

A fusão do Budismo e do Shintoismo permitiu a
criação do Bushido, ou Via do Samurai. Pode-se
resumir essa Via por sete pontos essenciais :

1 = Gi : a decisão justa em qualquer circunstância ;
atitude justa, a verdade.
2 = Yu : a bravura próxima do heroísmo.
3 = Jin : o amor universal, a boa vontade em relação
á humanidade.
4 = Rei : o comportamento justo que é um ponto
fundamental.
5 = Makoto : a sinceridade total.
6 = Meikyo : a honra e a glória.
7 = Chugi : a devoção e a lealdade.

São estes os sete princípios do espírito do Bushido.
BU = artes da guerra;SHI = o guerreiro;DO = a Via.
A Via do Samurai é imperativa e absoluta. A prática
vem do corpo através do inconsciente e isso é
fundamental. Daí a importância dada à educação do
comportamento justo. As influências entre o Bushido
e o Budismo foram recíprocas. Mas o Budismo
marcou o Bushido em cinco aspectos :

1 = O apaziguar dos sentimentos.
2 = A obediência tranquila face ao inevitável.
3 = A maestria de si próprio na presença de qualquer
acontecimento.
4 = Uma intimidade maior com a ideia da morte do que
com a ideia da vida.
5 = A pura pobreza.

Antes da segunda guerra Mundial, o Mestre de Zen
Kodo Sawaki dava conferências aos maiores
Mestres de Artes de Budo, às mais altas autoridades
do Budo. No Ocidente confundimos Artes de Budo
com Artes de Guerra ; mas em japonês é a Via. No
Ocidente estas Artes Marciais tão em voga,
tornaram-se um desporto, uma técnica sem o espírito
da Via. Nas suas conferências, Kodo Sawaki dizia
que o Zen e as Artes de Budo têem o mesmo gosto e
são uma unidade. No Zen como nas Artes de Budo, o
treino conta muito. Quanto tempo devemos treinar?
Muitos perguntam: " Durante quantos anos devo
treinar Zazen?” a resposta é: " Até à morte ".
A resposta não agrada na maior parte dos casos.
Os Ocidentais querem aprender ràpidamente, alguns
mesmo, num só dia.... " Vim uma vez e compreendi ".
Mas o Dojo não é como a Universidade. Também no
Budo é necessário continuar até à morte.

As Três Etapas

Primeira etapa : um período de prática em
que a vontade e a consciência são necessárias no
início. No Budo, como no Zen, este período dura mais
ou menos de três a cinco anos e antigamente mais de
dez anos. Durante esses dez anos, era necessário
continuar a prática do Zazen com a nossa vontade.
Mas acontecia que entre os três e os cinco anos de
verdadeira prática o Mestre concedia o Shiho
(transmissão).Nessa época era necessário viver num
templo e seguir alguns Seshin (períodos de vários
dias ou até semanas). Hoje em dia, no Japão actual,
o Shiho é apenas transmitido de pai para filho e é
apenas uma espécie de formalidade. Por isso o
verdadeiro Zazen diminuiu e já quase não existem
verdadeiros Mestres no Japão. Antigamente era
necessário passar pelo menos três anos nos Templos
de Eiheiji e Sojiji, para que se pudesse receber a
ordenação ( sacerdócio ). Hoje em dia basta um
ano ou apenas três meses e até apenas um Seshin
para ser ordenado Monge. Quem é Mestre na nossa
época ? Esta questão é muito importante. Quem é o
vosso Mestre? A maior parte dos monges japoneses
responderão a esta questão:" É o meu pai ". De facto,
apenas os discípulos de Mestres como Kodo Sawaki
são verdadeiros Mestres ; pois seguem os
ensinamentos dos seus Mestres durante dezenas e
dezenas de anos. O Dojo do Mestre Kodo Sawaki não
era como aquele de Eiheiji ; era sem formalismo.
Kodo Sawaki dizia sempre : " o meu Dojo é um Dojo
ambulante ". Ele ia de templo em templo, de escola
a universidade, á fábrica e até às prisões. O seu
ensino colava-se à vida. No Zen como no Budo,
o primeiro período, Shojin, é portanto o período de
treino pela vontade e o esforço consciente.
A segunda etapa é aquela do tempo de concentração
sem consciência depois do Shiho.O discípulo está em
paz. Ele pode tornar-se realmente o assistente do
Mestre. Posteriormente ele poderá tornar-se Mestre e
por sua vez ensinar a outros.
Durante o terceiro período, o espírito atinge a
verdadeira liberdade. " Ao espírito livre, universo livre ".
Após a morte do Mestre, tornamo-nos Mestres
completos. Mas evidentemente, não se deve esperar
nem desejar a morte do Mestre, pensando na nossa
libertação. Estes três períodos são idênticos tanto no
Zen como no Budo.
.

....

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

O Zen


ZEN

A palavra Zen deriva do " sanscrito" = Dyana =, em chinês
= Chan-na =, que significa meditação. Uma lenda diz, que
Buda tenha transmitido as regras a Kasyapa, o seu
discípulo favorito, enseguida, vinte sete Patriarcas
continuaram o ensino até "Bodhidharma", que veio da
India para a China (600) e foi o primeiro Patriarca Chan
(O Zen em Chinês chamava-se Chan). Històricamente,
o Zen foi introduzido no Japão no século XIII , em reacção
contra diversas espécies de Budismo implantadas no
Japão desde o século VI e que se tinham
progressivamente degradado. O Zen é pois uma reacção
integradora, contra as tentações de facilidade que
poderiam conter a doctrina Amidista (Buda Amida).
Na prática os efeitos da doctrina Zen, tiveram uma
influência considerável no Japão, pois a sua aparição
coincidiu com a instauração do feudalismo Japonês,
que data do fim do seculo XII
(é então que a classe dos guerreiros de profissão ,
é levada ao primeiro plano).

== O que é o Zen ==

Do Zen pode-se dizer, tudo o que não é : nem um sistema
de ideias, nem metafísica, nem religião. Não se rodeia
nem de dogmas, nem de crenças, nem de símbolos, nem
de templos, nem de votos monásticos. Para o Zen, não há
nada a procurar, nem nenhum mérito a adquirir. Não é uma
Via, nem necessita de nenhuma Fé, não espera nenhum
Salvador, nem promete Paraíso algum. Não propõe
nenhuma escolha nem nenhuma aquisição. Para o Zen
nada existe, não é questão de definir os objectos, nem
espírito, nem Buda, nenhum ser, nem coisa alguma tem
realidade fundamental. É por isso que um preceito bem
conhecido, de Zen diz : " Mata o Buda ".
O Zen é pois " uma pedra atirada no lago das aparências
para fazer estilhaçar o Vazio de todas as coisas". Se bem
que a essência do real, seja o objectivo final que o Zen
procura, dado que este real é " o Sem Nome ", quer dizer
da mesma Essência que o Absoluto inatingível e
incomunicável, é esse Real que o Zen se propõe
apreender, fora de todo o processo de razão analítica.
É por isso que o Zen não explica nada. Definir uma
Doctrina, seria encontrar-se prisioneiro dessa mesma
doctrina, enquanto que o que " É " aparece como um
relâmpago instantâneo e desaparece com igual rapidez.
O Homem atento apercebe nesse momento uma
compreensão ou iluminação passageira que se chama
" Satori ". A ideia de Vazio pode ilustrar-se assim : " Se
concebermos que a vida do homem se parece a uma
corda com um nó, o Zen propõe ao homem, não de juntar
novos nós, quer dizer de aumentar os seus laços de
conhecimento ou de poderes diversos, mas pelo contrário
desfazer todos os nós da corda , e de lhe restituir a forma
direita e lisa, tal como era na sua origem ". É por isso
que o " Vazio " Zen é o contrário de " Não Existente".
O sentido de Budismo que o Zen dá ao homem, significa
que tudo já existe em Nós e que é apenas suficiente afastar
todas as causas que obscuressem o verdadeiro
conhecimento, para reatar o contacto com esse
conhecimento. Convém notar que um Físico, é capaz
melhor que ninguém, de compreender este raciocínio.
Em última análize, ele sabe que, de todas as maneiras
nenhum homem poderá alguma vez reatar, apartir de
uma molécula original a Ordem da Criação. Muito ao
contrário, quanto mais o infinitamente pequeno, é
explorado, mais campos de energia inumeráveis e sempre
diferentes se abrem na sua frente. " Se bem que o
Universo, à imagem do Electrão, que o continua, não é
senão um campo de probabilidades" ( Louis de Broglie ).
Na ordem da vida corrente, a dificuldade é de aprender, a
não emoldurar ( restringir ) o que É : então o movimento
salta, a palavra pronuncia-se, a substância do Real
aparece. Na vida prática,os adeptos do Zen propõem
um método de meditação aparentemente absurda a que
eles chamam de " Koan ". O koan é uma formula que
fere as ideias recebidas e toda a nossa cultura profunda,
precisamente porque ela, tende a rejeitar todo o
julgamento intelectual e razoável.Por exemplo um monge
lança a seguinte pergunta : " Como pode a minha mão ,
ser como a mão do Buda ? " Resposta : " Tocando
harpa ao luar ". Ou ainda : " Como escapar á palavra
e ao silêncio, se eles pertencem os dois ao mundo do
relativo e do Absoluto ? " Resposta : " Penso nas
perdizes que brincam entre as flores perfumadas".
Em realidade, os monges célebres criaram,
por estas respostas "desconcertantes" toda uma
literatura de " koan " que são sempre necessários
para meditar nos mosteiros.

== O poema de Zen mais antigo começa assim :

"A Via perfeita, é sem dificuldade, só que ela evita escolhas,
só quando se cessa de amar e de odiar, é que tudo pode
ser claramente compreendido. Uma ínfima diferença, é
suficiente para separar o Céu e a Terra. Se quereis chegar
a uma verdade clara, não vos preocupeis com o justo ou o
não-justo ".
" Os conflitos entre ... o justo e
não-justo ...são a doença do espírito "
.
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......